Santas de Roca
Uma boneca solitária com olhos de santa leva-nos em viagem a um mundo feminino feito de procissões e proibições, de festas e descobertas. Vidas sonhadas, vidas vividas, vidas esquecidas. Um olhar sobre nós mesmas entre hoje e ontem. Tudo começa com uma estranha procissão pelas ruas da cidade que no teatro encontra o seu santuário. A principio fala-se baixinho, como na igreja, sobrepõem-se as palavras de diferentes gerações, até que as palavras se tornam dança, a música invade o espaço, e a vitalidade das mulheres toma conta do teatro. Já não há obrigações nem proibições, não há roupinha branca para vestir, sapatos apertados, ombros cobertos, véus pretos. Os pedaços da grande boneca enchem o espaço de imagens extraordinárias e neste palco onde os sonhos se confundem com as lembranças uma saia pode ser um barco, um braço uma bengala, as procissões arraiais; os corpos caem e são levantados, os amores desejados voam como fantasmas e as pernas não tem cabeça. Um espectáculo feito por mulheres que leva o publico para dentro de um universo feminino em que tudo se transforma e nada é o que parece. Descrição do projecto A ideia do espectáculo nasceu quando pela primeira vez vi uma santa de roca, exposta numa loja de antiguidades. Era uma estatua para altares domésticos da dimensão de três palmos, que atraiu a minha atenção mais de qualquer outro objecto sumptuoso e dourado exposto na vitrine, se calhar pela tristeza dos seus olhos, a delicadeza das suas mãos, a força e a simplicidade da saia, se calhar porque era um objecto que pertencia ao passado, dalguma forma esquecido, privado da sua roupa e da sua sacralidade, que me falava das mulheres de todos os tempos. O sacro e a mulher são os dois temas desta viagem acompanhada por uma “santa”, duas bailarinas e um grupo de mulheres de Alcanena. Quis trabalhar com um grupo de mulheres, não profissionais, para criar um espectáculo feito de pessoas reais e das suas inquietações, mulheres com idades e experiencias de vida diferentes. Por isso o processo criativo começou com uma serie de laboratórios para um grupo amplo de mulheres, um espaço de troca entre bailarinas, uma enfermeira, uma professora, uma responsável de venda de cosméticos, uma microbiologista, uma empresaria fúnebre, entre outras, onde, ao lado de momentos de trabalho de corpo e voz, havia conversas e partilha de experiências. Cinco destas mulheres fazem agora parte do elenco fixo do espectáculo, as outras estão presentes através das historias que partilharam conosco durante os laboratórios. Interessa-me que o espectáculo saia do teatro e ande pelas ruas da cidade, que desperte o interesse de quem não costuma ir ao teatro, que lembre que o teatro é vivo e existe, que não esteja fechado entre quatro paredes. Pedi ao João Calixto para construir a nossa “santa-marioneta”, objecto fundamental do espectáculo, capaz de transformar-se e partir-se em pedaços, feito de madeira, metal e cera, um objecto forte e ao mesmo tempo capaz de derreter-se. A banda sonora será principalmente composta pelas musicas de João Aguardela, do projecto Megafone, não será musica original, mas será um ponto de partida para a criação, pela sua capacidade de falar de tradição e contemporaneidade, e lembrar-nos que o nosso presente é feito de passado. Ficha artística Conceção e direção: Costanza Givone Co-criação e interpretação: Inês Tarouca e Rafaela Salvador Co-criação e interpretação comunidade: Isabel Lobo, Maria do Céu Calçada, Mariana Ganaipo, Maria João Rodolfo, Sofia Frazão Participação especial : Catarina Pereira Assistência: João Vladimiro Musica: João Aguardela Sonoplastia: Rui Gato Desenho de luz: Rui Alves Figurinos: Marta Félix Objectos: João Calixto Colaboradores construção: Nuno Tomaz, João Alberto Nogueira Produção executiva : Marta Felix Fotos: João Vladimiro, Manuel Moreira uma Produção Artemrede Teatros Associados Agradecimentos: Aida Costa, Ana Cristina, c.e.m. centro em movimento, Emilia Vieira, Ezequiel Pereira, Herminia, Margarida Cadete Matos, Maria José Coelho, Miguel Carvalho, Nuria Duarte, Fatima Abreu, Fosso de Orquestra – associação, Teuc, Samuel Beckett, Associação Megafone, Hermelinda Sousa, Manuel Ruas Moreira, Ricardo Vaz Trindade, Teatro da Garagem, Daniel Orm, Maria Emília Lobo, ETER, Maria Julia Vaz, Madalena Victorino, Bloco de Esquerda- Coimbra, Retrosaria Achilles. |
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