Krapp's last post ir ao site
Costanza Givone, intensa Salomè che ha perso il lume
Venerdì 16 Novembre 2012, Ines Baraldi
“Repare que a mania vem do demasiado sentir”essa citação de Foscolo pode ser uma das possíveis referencias para aproximar-se ao pequeno mundo bipolar de “ Salomé ha perso il lume” de Costanza Givone. Pequeno só nas dimensões cénicas e na perspectiva obrigada do monologo, mas decididamente distenso e suspenso nos rasgos do abismo duma consciência, que gira em circulo sobre si mesma e sobre os rasgos de luz lançados pela própria mania.
O lindo trabalho feito pela Givone sobre a princesa de Giudea se mexe nas negações (de olhar, de luz, de razão) (...)”
“A historia não muda e é contada quase como ante facto num tabuleiro de xadrez, onde a figura feminina move a historia. Mas o ponto de vista desta vez é unicamente o da estranha lua: uma mulher bloqueada num limbo eterno a qual é concedido explicar-se e estudar-se no espelho duma plateia.
O cenário se traduz assim numa prisão sem grades, estrutura entreaberta que aprisiona o jogo solitário ao perímetro duma obsessão encantadora, no entanto o traço da razão confunde-se irremediavelmente com o do sentir e o conhecimento de si mesmo liga-se a um destino de morte. Eis que a metamorfose acontece no circulo do “ patei matos”, movida directamente pela paixão sofrida seja pelo objecto do amor, um profeta vindo do deserto, que se tornou uma cara de barro, seja pelo cruel sujeito que o molda e o deturpa, descompõe e recompõe, engole e cospe na cena. A cena dum sacrifício que em “Salomè ha perso il lume” tem os traços duma “opera buffa”, dotada duma seriedade ingénua e frágil, e nesse sentido trágica.
Não há fuga dos nefastos presságios e das “dramatis personae”, mas pode haver deliberada exposição do lado nocturno da linguagem deles, até que o amargo sabor do amor se aproximará ao do sangue. Ao mistério dessa proximidade a atriz escolhe abandonar-se. Porque não pode haver, para esta Salomé, possibilidade de compreensão da própria mania e do seu correspondente.
Somente deixando-se possuir na dança lindíssima, negra e ainda sem salvação de Salomé com a musica “Russian dance” de Tom Waits, Costanza Givone consegue mudar de signo à dissociação linguística da própria personagem, escorregando das próprias razões sobre Yokanaan a um si sem retorno. “ Se me tivesses olhado terias-me amado”, repete com convicção uma princesa impossibilitada ao martírio, atirando sobre si um céu de luzes, movido com sabedoria por Samuele Mariotti.
Sobre estas luzes tem-se desenvolvido o pensamento dramatúrgico, e quando elas se apagam, também esse parece eclipsar-se. Se calhar vai voltar a dançar, no entanto, fora de cena, as vozes gritam já à loucura.
ArsKey ir ao site
TEATRO JOVEM E CULTO. EIS COMO ZOOM FESTIVAL RESPONDEU À CRISE CONTEMPORANEA
Sandra Salvato , 19.11.2012
"(...) Depois um relâmpago. Costanza Givone tem tido, como os outros, só um dia para apresentar-se e apresentar à plateia a sua Salomé ha perso il lume. Gostaríamos de a ter visto mais e mais, ter lucidez e loucura nas mãos para brincar com se fossem barro. Iluminada por uma estrutura de luzes que marcam o perímetro da sua performance, Givone isola a figura de mulher trágica e encantadora à arcaica crónica dos factos. Logo depois de tê-los contado com um divertido jogo de xadrez, Salomé torna-se fisicamente protagonista mostrando a força de atracção do corpo e da mente. O espectador é levado pelo mesmo caminho em direcção à obsessão, assim Salomé perde a razão irreversivelmente. As luzes que picam um cenário desolado e claustrofóbico, guiam quem observa num jogo de encontros do teatro com a dança, da escultura com a musica. Uma visão ibseniana do incônsciente que revela as profundezas do animo e as vê subir à superfície, mostra o seu poder deformador; enquanto Salomé se afasta do imaginário de Venere encantadora e segura de si. Crise interior e crise contemporânea, o teatro, como a sociedade, questiona-se onde esta a origem do mal-estar."